Você
está infeliz no trabalho. Já faz alguns anos que está nele, mas jamais foi o
que sonhou pra sua vida. Você cobra muito de si mesmo, estressa-se com metas a
cumprir e pendências, não tem se organizado conforme gostaria. Não se sente
nada realizado. Além disso, tem tido dores no corpo porque fica o dia todo na
mesma posição e faz movimentos repetitivos.
Você
está com problemas financeiros. Não se planejou para as contas e gastou além do
orçamento. Às vezes é difícil resistir ao prazer momentâneo do consumo. Assim
como é difícil resistir ao desejo incontrolável de fumar ao pensar nos
problemas. Você já tentou parar com o cigarro, mas não conseguiu.
Você
não tem conversado com as pessoas. Afastou-se dos familiares e amigos. Não
compartilha com eles o que se passa na sua vida. E nem está disposto a ouvi-los.
Prefere ficar só.
Você
está sedentário. Há algum tempo não se mexe, sequer para uma caminhada leve. Nas
horas vagas, costuma deitar no sofá diante da televisão com o controle remoto
na mão preparado para mudar para o próximo canal que ofereça mais um programa inútil.
Nada tem te interessado.
Você
tem se alimentado mal. Anda cometendo excessos com o sal, gorduras, açúcar,
além de consumir produtos industrializados nada saudáveis, deixando de lado os alimentos
que fazem bem. Pra piorar, você não tem hora certa para as refeições e come em
grande quantidade quase na hora de ir deitar.
Você
tem passado noites em claro. Não tem dormido nada bem, nem mesmo com a ajuda de
uns comprimidos dados por um colega que os usa e garantiu que são bons. No dia
seguinte, você sente dificuldade para se concentrar e o corpo está exausto.
Você
vive assim já há algum tempo. Acostumou-se. É automático. Mas você percebe
agora que tem piorado uma dor nas costas de longa data e que vez ou outra sente
um desconforto na cabeça, próximo da nuca. Também incomoda uma queimação no
peito e às vezes sente cansaço e um pouco de falta de ar ao subir alguns lances
de escada.
As
pessoas notam que você está diferente. Já não é o mesmo desempenho no trabalho.
Parece desanimado com a vida. Sugerem que você procure um médico. Você lembra qual
foi a última vez que se consultou com um médico? Sempre foi tão forte e se
sentiu tão bem. Foi algumas poucas vezes ao pronto-socorro tomar remédio na
veia para aliviar uma dor de cabeça mais forte. Nunca achou que deveria ir
consultar se não estivesse com um problema grave.
Qual
a sua idade? Você demora um pouco a lembrar. A memória não tem contribuído
muito ultimamente. É, você não está mais tão jovem assim. Talvez agora você
realmente precise de um médico.
Você
está no consultório. O médico afere a pressão. Está alta. Palpa suas costas
doídas, te examina deitado, movimenta suas pernas. Pode ser que você tenha uma
hérnia de disco. Pede uma ressonância. Você queixa da queimação e ele desconfia
de doença do refluxo gastroesofágico. Pede uma endoscopia. Pede também uma
lista de exames de sangue. Aconselha bons hábitos alimentares, atividade
física, evitar o cigarro e a bebida. Você
já tem mais de cinquenta anos e é recomendado que faça uma colonoscopia. O risco
de muitos cânceres aumenta com a idade e por isso o médico quer ter o cuidado de
investigar o intestino grosso. Suspeita ainda de um provável quadro de
depressão. Prescreve anti-hipertensivo, antidepressivo, remédio para dor e para
dormir.
Você
ainda não digeriu tudo isso. Não sabe o que pensar. Mas percebe que tem que se
cuidar. Você compra os remédios, corre atrás dos exames. E por alguns dias,
você fica pensativo sobre a vida. Lembra qual foi a última vez que parou para
pensar em si mesmo?
É
o início do tratamento. Você faz algumas poucas mudanças na dieta, ainda não tem
coragem de iniciar uma atividade física. Não sentiu, por enquanto, nenhuma
melhora com os medicamentos.
Mas
a vida continua. Você tem contas a pagar. Precisa ir trabalhar. As preocupações
são tantas que você não consegue abrir mão do cigarro. A falta de tempo faz com
que você deixe de realizar os exames. A dor nas costas te impede de fazer uma
atividade física. Melhor evitar qualquer esforço para que não piore. E você
permanece no sedentarismo.
Passam-se
alguns meses, os remédios acabam e você não volta a comprar. Seus hábitos são
os mesmos de antes. E você já nem lembra mais que foi ao médico.
Você
sente uma forte dor no peito. Nunca sentiu uma dor tão forte assim. Está pálido,
sua frio. Chama por socorro. Correm com você para a emergência de um hospital. Ao
chegar, logo realizam o seu eletrocardiograma. Você acaba de ter um infarto.
Rapidamente
te levam para a sala de hemodinâmica. Uma angioplastia te salva. Você se sente
frágil. Mas isso não minimiza o seu sentimento de culpa. É, você agiu mal. Não se
cuidou. Você agrediu o seu corpo. Ele te respondeu.
Estão
agora cuidando de você. Passam pelo seu leito, cumprimentam com um sorriso,
perguntam se está tudo bem. Dão todos os medicamentos nos horários corretos.
Discutem sobre você e sua doença. Querem fazer o melhor que podem por você. A
família tem vindo fazer companhia.
Você
sente vontade de chorar. Pensa no quanto há pessoas boas e na importância
daquelas na sua vida. Pensa que embora tenha feito tudo errado, você não sofreu
nenhum castigo. Pelo contrário, você está tendo uma chance. Existe perdão. Pensa
que vale a pena viver. E você se lembra de todas as coisas que ainda deseja
fazer antes de morrer.
Você
já está melhor depois de alguns dias. Recebe alta. Aos poucos foi tomando
conhecimento sobre todos os cuidados que deve ter consigo mesmo. Irá se
alimentar melhor, praticar exercícios físicos, abandonar o cigarro e a bebida, fazer
tudo como o médico pediu. Você quer poder viver ainda por um bom tempo. Irá
planejar o seu dinheiro para as contas e também para viver bem. Irá fazer
passeios com a família nos fins de semana. Irá reunir-se com eles à mesa para
as refeições. Irá conhecer os lugares que sempre teve vontade, ouvir as músicas
que gosta, ler mais sobre os assuntos que te interessam. Irá procurar as velhas
amizades e cultivá-las. Irá aproximar-se de Deus.
Você
percebe que as costas já não doem mais depois de realizar sessões de
fisioterapia e adquirir disciplina com a postura conforme recomendação médica.
A cabeça está em perfeito estado depois que a pressão arterial controlou. A
queimação que sentia e que provavelmente tinha como causa doença do refluxo
você já não sente mais com mudanças feitas na dieta. A colonoscopia que
realizou afastou a possibilidade de câncer do intestino. Os exames de sangue
não detectaram anormalidades. Você vai aos poucos descobrindo o que é melhor
para o seu bem-estar. Você se dá tempo para cuidar melhor de si mesmo.
Seu
corpo está agradecido. Seu coração bate tranquilo. Os pulmões respiram melhor. Sua
mente também agradece. Faz tempo que os antidepressivos não fazem falta. Sua
expressão já é outra, muito mais relaxada e feliz. Está mais bem humorado e
disposto. Isso tem feito bem até mesmo para as pessoas à sua volta.
Você
tem cultivado apenas bons pensamentos. Você tem evoluído espiritualmente. Você
tem se proporcionado momentos de prazer. Você está em contato mais próximo com
a natureza. Faz bem por os pés descalços no chão, sentir a brisa, observar o
horizonte, ouvir o balanço das árvores, fechar os olhos e meditar.
Você
sente que adquiriu o equilíbrio entre o seu corpo e a sua mente.
Você
sente que é capaz de ter o controle sobre a sua vida.
Você
sente o quanto pode fazer bem a si mesmo.
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